sexta-feira, 9 de julho de 2010

Salto Ornamental - Maria Luiza


Subi na plataforma de saltos - 10 metros - e, sem olhar a piscina, mergulhei de cabeça.

Vejo apenas um espelho d'água, onde acreditei haver profundidade suficiente. Tarde demais para reverter o salto: enquanto meu corpo está suspenso no ar, tento pensar em como minimizar os ferimentos que terei.

Meu corpo em queda livre.

Meu rosto se aproxima da lâmina d'água. Constato: vou me esborrachar. Talvez não morra da queda, mas terei ossos e dentes quebrados. Talvez uma concussão, uma hemorragia interna. O coração rompido. Estado de coma. Novamente as reticências...

Toda uma vida feita em reticências. Talvez seja a hora de pedir o boné: das relações inacabadas, da maternidade usurpada, dos livros inconcluídos, da casa semireformada, da tragicomédia que me tornei.

Alguns pensarão que foi suicídio - não foi.

Acidental, incidental.

Proposital.

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