sábado, 31 de março de 2012

. Os pés e a alma . - Guilherme Beiró

Texto originalmente postado em Diafragma, obturador e letra


"Na curva" - MLDiasCosta






Foi andando como quem não pensa
Como quem deixa as pernas levarem
Os pensamentos, agora já libertos das ações, seguiam caminhos outros.

Os pés marchavam
Ritmo constante porém sem rumo
Na cabeça lembranças vinham em profusão
Respostas nunca dadas
Ações nunca tomadas
Soluções sobre o passado, que agora passadas, pareciam tão óbvias
Nos ouvidos os violinos cantavam com os violoncelos, brincavam com as harpas e davam o tom necessário para essa caminhada decisiva.
Passou por uma esquina
O passado passou ao seu lado
E passou
Um tanto de cheiro e presença ficou
Daquela jura dita em silêncio
Daquele momento que era presente
E no presente não permaneceu
Lembrou das ruas antes andadas
Dos charmes
Da chuva
Dos fogos
Do fogo que aos dois queimou
E o mundo ao redor
Do tempo fora do tempo 
Os pés seguem um caminho
O corpo segue outro
Nesse espaço, nesse vão que se forma entre os dois
Ele permanece
Estático
Esperando o reencontro


Meio corpo
Meio alma.  

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