sábado, 5 de março de 2011

Matando a saudade - Maria Luiza

Arpoador, fevereiro 2011.
Photo by Maria Luiza

Afastei-me da web durante esses dias, férias do trabalho, dos afazeres normais, da cidade onde vivo.  Destino: Rio, a Cidade Maravilha, 40 graus de acolhimento e beleza – minha primeira casa, minha eterna casa, onde as referências de cheiros, paisagens, ruas, construções, mar e montanhas, trânsito implacável e a magia do charme do carioca se faz notar em qualquer horário, qualquer rua, em qualquer esquina.

Reencontros agradáveis com quem já havia retomado contato há três anos, depois do meu autoexílio de trinta anos, mais o resgate de amizades há muito adormecidas pelo tempo e afastamento, rever tanta gente mexe dentro – faz a gente pensar no que cada um passou: amores, desamores, decepções, sucessos aqui e acolá, perrengues e as marcas de tudo isso sulcando aqueles rostos que ficaram guardados na memória – jovens e esperançosos.  Alguns olhares tornaram-se sombrios, desconfiados, como se esperassem o próximo golpe da vida; outros continuam com o mesmo brilho de trinta anos atrás, como se esperassem o próximo convite para ir à praia, ou um chopp no final da tarde.

No meio de tudo ainda há espaço para recontar novas velhas histórias, apresentar os filhos, surpreender-se com a menção de velhos amigos que não reencontrei ainda, e lembrar, com uma saudade gostosa, da época da adolescência, onde os sonhos e promessas eram infinitos: as histórias acontecidas no Fusca de um ex-colega, das implicâncias gratuitas com os cedeéfes do colégio, do polícia-e-ladrão com a turma do prédio, o jogo de vôlei improvisado na área de manobra dos automóveis no condomínio.  Namoros que não aconteceram, paixões que ficaram suspensas no ar e nunca confessas. Tudo isso ficou na memória de cada um, de uma maneira ou outra.

Levei minha filha mais nova para conhecer os lugares da minha infância e adolescência para que ela, no alto de seus 11 – quase 12 anos tenha noção de como a mãe dela viveu uma das melhores épocas da trajetória da vida de qualquer um.  Passeei com ela pelo Parque Lage, Jardim Botânico, Casa de Rui Barbosa, Praia Vermelha, Urca.  Mostrei os detalhes arquitetônicos das construções, contei histórias daquela época que vivi um Rio que ainda existe, mas está maduro.  Descobrimos juntas outra paisagem que não se podia visitar na minha juventude: Ilha Fiscal – ela se encantou com o castelinho que a guia insistiu em frisar que é um local de trabalho e, portanto, austero. Divertimo-nos visitando o Museu Naval: ela entrou e saiu de tudo que era permitido: navio, submarino, helicóptero.  E o calor do início da tarde não deu trégua.  “Mãe, essa cidade é linda” - diz minha gauchinha – “Me ensina a falar carioca? Quero vir morar aqui”.  Sorrio apenas.   

Nunca pensei que pudesse abandonar a minha cidade amada, mas aconteceu.   
Quem sabe um dia eu volto? 
Outra vez. 
De vez.

Nenhum comentário: