quarta-feira, 8 de maio de 2013

Mentiras - Maria Luiza

Então você quer que eu lhe conte mentiras. 
Daquilo que paira em meu íntimo e que não mais dissimulo. 
Quer ouvir valsa onde só existe barulho de metal rasgado, carne dilacerada, e fragmentos de felicidade partida. 
Não há como dizer o indizível. 
O sentimento é sempre maior do que a palavra.
E não há palavra para o que sinto. Qualquer uma proferida será uma mentira. 
Talvez a mentira tenha se transformado na grande verdade: uma vida vivida com base no engano. 
Uma abdução dos sentidos e da razão.  
Quem sabe uma alma capturada num pote e colocada na estante, para deleite próprio? 
A alma tem seus segredos: foi anestesiada e lá ficou em coma, mas não deixou de sonhar. 
Acorda aos poucos, zonza, sem saber exatamente onde está e se vê presa.  
Debate-se entre as mentiras do sono e as mentiras da vigília. 
Descobre a tampa do pote: é lá que é a saída para onde mora a liberdade e a verdade.
Mas isso também pode vir a ser uma grande mentira.

Um comentário:

Angela da Rocha Rolla disse...

Maria Luiza

Textos muito bons, linguagem enxuta e direta. Lindas imagens textuais e pictóricas. Recomendo este blog!

Abraço
Angela