quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O vento não levou - Maria Luiza


O que o vento não levou

No fim tu hás de ver que
as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:


um estribilho antigo

um carinho no momento preciso

o folhear de um livro de poemas

o cheiro que tinha o próprio vento...

(Mario Quintana)

Um certo desassossego no peito e uma leniência com a vida... deixo o rio correr, pois não posso apressá-lo. Os dias pachorrentos de trabalho e isolamento parecem infindáveis. Estranho como as pessoas à volta não se dão conta do que se passa no recôndito da alma alheia. Gostaria de não ser tão borbulhante por dentro. Por fora posso até parecer plácida na maioria das vezes, mas a cabeça e o coração pulsam em agitação constante.

Dia desses ofereceram uma moeda por meus pensamentos: não os disse. Apenas sorri e me retirei. Ando sem vontade de falar e escrevo somente quando estou só. Não, não estou triste, só não tenho ânimo para conversas corriqueiras que nada acrescentam. Mergulho no meu interior e lá fico: explorando cada aspecto da minha própria essência e questiono o sentido de cada coisa que faço, que fiz. É estranho ver como as respostas se modificaram ao longo do tempo e hoje as perguntas também não são mais as mesmas. Olho o caminho percorrido e vejo quantos foram os acertos e os vários erros que cometi - a isso dão o nome de experiência de vida - eu nomeio apenas como vida. Não me sinto "experiente" - sinto-me ainda uma aprendiz da arte de viver. Que venha a vida, pois a abraço e sigo com ela. Seja boa ou má - é a única que tenho: desesperançadamente - "não há nada a ser esperado, nem desesperado", lembra-me Caio. Parei de pensar em futuro: coloquei todos os meus planos de volta na gaveta e passei a chave. Filosofo igual ao Zeca Pagodinho: "deixa a vida me levar - vida leva eu".

O estrebilho antigo: "Eu sou sua menina, viu? Ele é o meu rapaz, meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.."

O carinho no momento preciso: "todos os beijos são roubados".

O folhear de um livro de poemas: "Livro do meu amor, do teu amor, Livro do nosso amor , do nosso peito...Abre-lhe as folhas devagar, com jeito, Como se fossem pétalas de flor. (Florbela Espanca)"


E o vento ainda tem o seu cheiro...

Um comentário:

Alex Fossati Sortiga Soares disse...

Cara Mana,

Incrível que a cada momento que passa, tu és cada vez mais um portento intelectual que não cansarei de observar e aprender.
Grande Abraço a tutta la famiglia.
Alex