terça-feira, 25 de janeiro de 2011

De Noite na Cama - Maria Luiza



Sonho com sua boca
e sinto o gosto do travesseiro.
De novo beijei a fronha!
Acordo molhada: suor e tesão.
Estou ficando louca
com todo este roteiro!
Já perdi a vergonha,
assim descarada: e dá-lhe mão!
 
Volta a doer o pulso...
Foda-se: quero gozar
pensando que é você
quem me toca e me come.
E no meu impulso
é deitar, tocar e rolar
ficando à sua mercê
sussurando seu nome.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ars longa, vita brevis - Maria Luiza

Photo by Mark Boucher




Faço uma comparação das trajetórias de vida de cada um de nós com a estrutura de peças teatrais.  No primeiro ato são apresentados os personagens e suas características - na vida, o primeiro ato vai do nascimento até o início da vida adulta (+/- 25 anos), onde adquirimos valores morais, formação academica, amigos, amores. 

O segundo ato, no teatro, é quando a trama se inicia e se desenvolve - na vida não é diferente: casamos, temos filhos, empregos, começamos a adquirir sabedoria, aprendemos ou não com os erros do passado - é a fase do empreendedorismo: construímos algo nosso para nós e para nossos decendentes.  Diria que é a fase em que me encontro: entre 25 e 55 anos.  

O terceiro ato é quando a trama urdida no segundo ato se destrama e os personagens definem conscientemente seus destinos após o aprendizado dos acasos e descaminhos do segundo ato. Assim é na vida: filhos criados, valores repensados, olhar condescendente para os próprios erros e desenganos alheios. Ter a consciencia de ser quem você é e a partir daí fazer o que é melhor para você. Deixar que os outros vivam suas vidas libertando-os do seu jugo e viver a sua vida liberto do jugo dos outros, com suas escolhas conscientes, novas ou velhas, e se sentir bem na própria pele. 

O "gran-finale": O momento em que a cortina desce e o palco nada mais é do que um lugar vazio.  Na vida: ao fechar os olhos pela última vez, ter a certeza de que se fez o que pôde para ser feliz, com todos os (des)caminhos, acasos, e desvios da estrada que gostaria de ter trilhado desde o início. E, se não tiver ouvido o "eu te amo" desejado - dito pela pessoa certa, saber que pôde dizê-lo a ela.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sobre desencontros noturnos . Maria Luiza

Após ler o texto do Beiró, surgiu-me a idéia de reescrevê-lo, com um tanto de mim e brincando com a imaginação. Abaixo o texto original do Gui, com a referência de seu blog Diafragama, Obturador e Letra e a seguir a minha versão. A foto que ilustra não podia ser outra: Guilherme e eu numa brincadeira lá em casa no Reveillón. Beijos, Gui!

. Sobre encontros noturnos . Guilherme Beiró

http://diafragmaobturadoreletra.tumblr.com/
 
Nosso caso sempre foi estranho.
Eu sempre quis encontrá-la.
Eu sempre procurei por ela.
Ela nunca me evitou. Mas mantinha distância. 
Caminhei esses anos todos acompanhado dos calos em meus pés e do cigarro nos dedos.
Tive amores e desamores. Encontrei a felicidade em braços muitos.
Minhas divas, minhas musas, minhas mulheres.
Algumas levaram o que de valor eu tinha.
Outras levaram pedaços de mim.
Um preço baixo pelo o amor, ou equivalente carnal, que elas me deram.
E agora, sentado nesse quarto escuro iluminado só por uma amarelada lâmpada fraca, me vejo finalmente, na tua frente.
Ela entrou, eu fiz que não via. Ela fez que não existia.
Circulou essa velha poltrona algumas vezes.
Não fez um som sequer, mas mesmo de olhos fechados eu sabia que ela estava aqui.
Ao soltar uma baforada densa, resultado de uma tragada profunda, abri os olhos…
Vi seu rosto delinear-se na fumaça.
Cinza azulado. Frio.
Ela sorria. 
Eu não.
- Vieste me buscar? - Perguntei voltando a fechar os olhos
- Vim te encontrar.
Ela ainda sorria.
Não sei se foi a lâmpada amarelada ou meus olhos. Mas tudo escureceu.
Ela não estava mais lá.
Nem eu. 
Nosso caso sempre foi estranho.
Eu sempre quis encontrá-la.
Eu sempre procurei por ela.

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. Sobre desencontros noturnos .  Maria Luiza



Nosso caso sempre foi estranho.
Eu sempre quis encontrá-lo.
Eu sempre procurei por ele.
Ele nunca me evitou. Pelo contrário, até me procurou certas vezes. Eu mantinha distância. 
Caminhei esses anos todos acompanhada dos saltos em meus calcanhares e do cigarro eventual entre os dedos.
Tive amores e desamores. Encontrei a felicidade em braços parcos.
Meus heróis, meus bandidos, meus gostares.
Nenhum levou o que de valor eu tinha.
Alguns levaram pedaços de mim.
Um preço alto pelo o amor, ou equivalente carnal, que eles me deram: a minha alma despedaçada.
E agora, sentada neste quarto escuro, iluminado só pela iluminação pública, me vejo finalmente, na sua frente. Havia tanto a dizer, mas dizer exatamente o que?
Ele sorria. Eu não. Espantada com sua presença em mim.
- Veio me buscar? - Perguntei voltando a fechar os olhos.
- Vim ver você.
Ele ainda sorria.
Não sei se foi a iluminação da rua ou meus olhos: tudo escureceu.
Ele não estava mais lá.
Nem eu. 
Nosso caso sempre foi estranho.
Eu sempre quis encontrá-lo.
Eu sempre procurei por ele.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Pedra Pome - Maria Luiza

Silêncio.
O seu silêncio é o meu abismo.
Negro.
Profundo.
Frio.
Grito.
Não há eco.
Minha garganta é giz.
Som de pedra-pome.
Áspero.
Cai no abismo da não-resposta.
Arde.
 
Rolo compressor.
A falta da palavra.
Esmaga.
Compacta.
Comprime.
Sufoca.
Sinto-me fardo de lixo reciclado.
Um cubo de descarte.
 
Imploro.
... deixe o coração falar!
Entregue-se a ele
como tenho me entregado ao meu.
Delícia.
Uma espécie de extase.
Arrebatamento.
Dissipe-se o cinza.