sábado, 31 de março de 2012

. Os pés e a alma . - Guilherme Beiró

Texto originalmente postado em Diafragma, obturador e letra


"Na curva" - MLDiasCosta






Foi andando como quem não pensa
Como quem deixa as pernas levarem
Os pensamentos, agora já libertos das ações, seguiam caminhos outros.

Os pés marchavam
Ritmo constante porém sem rumo
Na cabeça lembranças vinham em profusão
Respostas nunca dadas
Ações nunca tomadas
Soluções sobre o passado, que agora passadas, pareciam tão óbvias
Nos ouvidos os violinos cantavam com os violoncelos, brincavam com as harpas e davam o tom necessário para essa caminhada decisiva.
Passou por uma esquina
O passado passou ao seu lado
E passou
Um tanto de cheiro e presença ficou
Daquela jura dita em silêncio
Daquele momento que era presente
E no presente não permaneceu
Lembrou das ruas antes andadas
Dos charmes
Da chuva
Dos fogos
Do fogo que aos dois queimou
E o mundo ao redor
Do tempo fora do tempo 
Os pés seguem um caminho
O corpo segue outro
Nesse espaço, nesse vão que se forma entre os dois
Ele permanece
Estático
Esperando o reencontro


Meio corpo
Meio alma.  

domingo, 4 de março de 2012

A insustentável leveza do ser - Maria Luiza

Punhal cravado no peito: assim foram sentidas aquelas duas palavras.
Foi o bastante para perceber que a balança está desequilibrada - que o poder do clã é maior do que as razões de uma só pessoa. 

Foi o suficiente para repensar até onde vale a resignação em prol do bem-estar coletivo do que a busca pela tal felicidade.

Foi definitivo para perceber que não se pode ser quem se é: sempre haverá que se usar máscaras, ainda que em família.

Família??? Pessoas que habitam a mesma casa, talvez. Por conveniência, por circunstâncias ou por hábito.
Cada uma em seu mundinho particular, com seus interesses pessoais, que se reúnem no fim de semana para uma refeição, onde cada qual fala superficialmente sobre as superficialidades da própria semana, sem realmente ouvir o que o outro diz.

Mas aquelas duas palavras ainda ecoam na memória e continuam a causar muita dor. 

Quem as proferiu, pró-feriu... será para sempre uma ferida que sangra:

"Fica longe".